O reflexo da decadência de vendas na música Gospel


Se voltarmos um pouco no tempo, na chamada "Fase de Ouro" da música Gospel - correspondente aos anos 1990-2010, iremos ver uma realidade totalmente diferente dos dias de hoje.

Uma fase marcada por discos históricos, tiragem de vendas iniciais de 500 mil cópias, certificações de Ouro, Platina e Diamante sendo conquistadas sem muitos esforços, músicas que ecoavam nos quatros cantos da nação, rompendo barreiras denominacionais.

Como não lembrar dos álbuns clássicos Com Muito Louvor (1999) de Cassiane e Preciso de Ti (2001) do Diante do Trono, cada um chegou a marca de mais de 2 milhões de cópias vendidas, Fernanda Brum e seu inesquecível Apenas Um Toque (2004) com mais de 750 mil cópias vendidas.

Em 2008, próximo dos primórdios das quedas de vendas, Damares e Regis Danese, lançaram respectivamente Apocalipse e Compromisso, cada um vendeu mais de 1 milhão de cópias e colocaram as músicas "Sabor de Mel" e "Faz Um Milagre em Mim" nas mais executadas do país.


Após 2010, o cenário mudou drasticamente, tiragens iniciais de 500 mil deram lugar a tiragens de 100 mil cópias, que desde 2015 passaram a ser de 50 mil, isso pra alguns dos cantores renomados, os medianos e novatos não se arriscam a tiragens inicias mais do que 30 e 10 mil, respectivamente.


Artistas que facilmente conquistavam certificados de Ouro e Platina, agora lutam pra conseguir em meses o que se conseguia em dias. Entretanto, vale ressaltar os raros casos que ocorrem nessa nova fase. Os CDs: Glória (2010) de Fernanda Brum que vendeu em um mês 40 mil cópias. O Sol da Justiça (2011) do Diante do Trono que em dois dias atingiu a marca de 40 mil cópias vendidas. E Obra Prima (2016) de Damares, que em menos de 24 horas apenas na sua pré-venda pelo site vendou 40 mil cópias.

Atualmente, nomes como Fernandinho, Damares, Lauriete, Anderson Freire e outros saem na frente em números de vendas, mas ainda assustadoramente menos que no passado.

Frente a essa nova realidade, a própria Pro-Música Brasil (antiga ABPD - Associação Brasileira dos Produtores de Discos) mudou a regra dos seus certificados varias vezes:


A venda física em 2016 foi de $5,37 bilhões, apresentando uma queda de -7,6% em relação a 2015. Já o número de downloads legais em 2016 teve uma queda de -20,5% comparado a 2015, apresentando $2,36 bilhões em vendas.

Perante os fatos, o que estaria ocasionando a queda no número de venda de CDs e DVDs do segmento Gospel, que mesmo assim, é o segundo que mais vende no Brasil, perdendo apenas pro Sertanejo.

Com uma visão mais superficial, alguns dizem que é a qualidade dos repertórios e arranjos que tornaram a queda de vendas acentuada, não desprezando esse ponto, porém, é muito insatisfatório, pois ainda há belíssimas composições e arranjos impecáveis nos discos produzidos até a hoje.

A resposta para quem seria o "vilão" de vendas físicas é a própria Internet. Com o crescimento de computadores e smartphones, aliados a facilidade de navegação e acesso a internet, a música passou a ser ouvida de uma outra forma, mais digital, e isso refletiu no meio Gospel, podemos ver o reflexo disso nas vendas.

O número de vendas digitais em 2016 foi $7,79 bilhões, um aumento de +17,1% em relação a 2015, como vimos o número de downloads caiu pra dar lugar aos aplicativos de músicas de plataformas streaming (Apple Music, Deezer, Spotify e etc) que são mais práticos e não ocupam tanto espaço na memória dos celulares. A venda de músicas em streaming no ano de 2016 foi de $4,56 bilhões, um aumento gigantesco de +60,4% em comparação a 2015.


Muitas gravadoras Gospel tomaram conhecimento dessa nova realidade e fizeram mudanças nas suas formas de vendas. Como a redução da quantidade de tiragens de discos físicos, a redução do número de faixas dos álbuns - que agora tem uma média de 10 músicas. Passaram a investir em lançamentos de músicas digitais, divulgação de vídeos em formatos Live Session e conteúdos multimídias.

Essa postura de repensar os caminhos e se adaptar as mudanças, deve sempre ser tomada por cada setor do meio musical, caso eles queiram acompanhar o mundo que a cada dia tem se transformado por meio da globalização.


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3 comentários:

  1. Apenas uma correção: o Acenda a sua luz da Aline Barros foi lançado em 2017.
    Achei bem interessante essa matéria.

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  2. Obrigado pela correção, Douglas! ��

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  3. Concordo plenamente com esse texto! A internet é o verdadeiro motivo das vendas terem caído tanto. Hoje em dia, quase ninguém mais compra CDs e DVDs físicos. Eu ainda compro todos os CDs e DVDs da Aline Barros, por ser fã dela. Mas todos outros cantores só acompanho pela internet mesmo.

    Não acho que isso afete tanto os cantores, pois a maior renda deles é dos shows pelo Brasil.

    Quem mais sofre com isso são as gravadoras, que precisam mudar urgentemente se desejam sobreviver nesse mercado globalizado!

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